03 novembro 2020

EUFORIA


No meu peito
Pulsa algo:
Que parece repetir o teu nome.
Na minha face
Sorriem os lábios:
Balbuciam detalhes.
Os meus átomos
Saudosos se queixam:
Ele aparece e some.
O meu tesão
Me agride
Quando lembra de ti
Sente fome.
E todos nós
Clamamos em coro:
Me abraça, me beija, me come!

E.R.

ESTRELA DECADENTE

 

Teus enigmas
Me fascinam
Mas como a fumaça
Das queimadas
Desaparecem
Depois da chuva fina.

Creio não ter o poder
De administrar esse enredo.

Gostaria de aprender
O tom certo
Pra atropelar sua atenção
E envolvê-lo
No meu emaranhado
De cores fortes.

É sutil o feitiço no ar
E estou presa…
E meus gestos exagerados
De privação
Deixam fugir um sussurro:
Sou tua personagem principal!
Sou água escorrendo!
Sou língua paralisada!
Sou a estrela!

Mas sou fácil demais
Pro seu complexo roteiro.

 
E.R.

GATO E RATO

Você aparece
Eu me escondo

Você me persegue
Eu te bloqueio

Você foge
Eu te odeio


E.R.

FLOR(ESTA)


Vai verde, contagia.
Conta pro egoísmo
A grandeza de vida
Que teu peito abriga.

Mostra pra maldade
O bem
Que tua irmandade tem.

Descortina pra injustiça
A divisão perfeita
Que teu solo enfeita.

Vai verde,
Convida a solidariedade
A se espalhar
Como as borboletas.

E.R.

ORAL (IDADE)


No banho, distante,
Água escorrendo.
Chuveiro ligado,
Diálogo com o passado.

Suas mãos,
Suaves, deslizam, apertam.
Aprisionam meus quadris.
Lançam-me entre os travesseiros.

Olhos para cima,
Procurando os meus,
Querem ver como se desenha minha respiração,
As travessuras dos meus sentidos.

Sua bca,
Procurando minhas coxas,
Feito pluma, pousa entre minhas pernas,
Sem pressa.

Sabe bem a letra,
E como eu gosto da música.
Melodia, harmonia e ritmo.
A regência das notas certas.
 
E.R.

HABITAT

Não há fome
Sede, sono.
Não há forma,
Jeito, rosto.
Só há um desejo 
Inexplicável
De estar perto,
De estar certo.
De respirar o seu hálito,
De tornar-me o seu hábito,
O seu Habitat.
De estar sempre no seu meio.

E.R.

LUAR DAS BORBOLETAS

Meu lugar de fuga
É um luar com borboletas
Não existe, eu sei

É meu recanto,
Lá também não existem surpresas,
Para agonizar minha alegria.

É meu lugar seguro
Não existem crédulos
Para rir do meu ceticismo.

Quero sempre luar de borboletas
E jasmins
Para adornar meu frisson.


CASA

Amor,
Faça de mim sua morada,
Mais demorada.
Casa nova, com varanda, cozinha e quarto.

Na varanda,
A rede pra embalar seu ócio,
O livro que vai te fazer viajar,
Sino dos ventos a soar.

Na cozinha,
Seu pão, seu antepasto, apimentado,
O seu vinho mais encorpado, tinto, frutado,
Seu tempero mais exótico, caricato.

No quarto,
A cama afável que te acolhe desinibida,
O travesseiro atrevido que te faz um cafuné,
A penumbra muda que vigia o sono.

Amor,
Faça de mim sua namorada,
Flor do teu jardim amazônico,
Companheira de poesia e caminhada.

E.R.

02 novembro 2020

ENERGIA RARA

Há entre nós eletricidade,
Milhões de watts pulsando,
Queimam minhas pálpebras ávidas de luz,
Querendo te vislumbrar nas penumbras.

Energia que expande teu corpo inteiro,
Atrai meu toque desesperado.
Atenção e compulsão em harmonia.
Sapiens-sexual buscando encantos em palavras raras.

Você começa com um discurso bem construído,
Criando as chamas que nos conectam.
Polos negativo e positivo desse imenso ímã astral.
Uma força irresistível nos compele um para o outro.

Nossa energia é concupiscente,
Não se consome nas conversas longas,
Precisamos do toque, da sinergia...
Dos delírios que se propagam em megatons.

E não paramos até provocar explosões.
Bomba atômica dentro de nós, morremos e renascemos.
Perdemos os sentidos muitas vezes.
E recomeçamos da saliva seca.


E.R.

PIRATAS DO VENTO

A hora mais triste se anuncia,
A despedida dos amantes.
Os abraços são tentáculos descontrolados,
Fixando suas ventosas nas lembranças boas.

Falta ar,
Nesse mergulho interminável,
Nas águas que refletem o adeus,
Esse mar de águas perigosas.

Seguirei nesse barco a navegar sozinha,
Como marujo solitário em mares desconhecidos.
Esperando os grandes cardumes,
Que os ventos vão libertar.

Seguirei eu a saquear tesouros,
Como pirata malvada a destruir conceitos.
Sobrevivendo de pequenas migalhas,
Que a vida há de revelar.

 
Eliane Rudey

A BANHEIRA VAZIA

Vinte anos se passaram
E as vezes
Sem querer
Ainda me lembro
De quando sentamos
E conversamos por horas
Dentro daquela banheira sem água
Nos molhamos em palavras
Ensaboados de risadas
Encharcados de beijos
Por horas
Mergulhados em olhares profundos.



E.R.

01 novembro 2020

TODOS OS SENTIDOS

Água escorrendo,
Num beijo molhado,
Gota a gota,
Pelo rosto,
Pescoço,
Fazendo curvinha no umbigo.
Afago na pele,
Deslizando,
Como dedos suaves,
Para despertar os sentidos.

Para ver:
Vislumbrei seus olhos apertados.
Ressaca de um vinho ruim
Ou a expectativa...
De momentos cegos a me olhar

Para ouvir:
A cadência e o ritmo do seu sorriso.
Sua voz que faz tanger todo um universo dentro desse corpo estranho,
Ouvi a ferida exposta, esperando a cura.

Para olfatar:
O faro de animal faminto,
Procurando saciar sua fúria,
Seus instintos mais perfumados.

Para tocar:
Tatear nuvens onde desenhei você em pensamento.
Davi de Michelangelo, vida que imita a arte.
Seu corpo perfeito.

E no Paladar:
Uva madura, rubra,
Apreciei por instantes,
O gosto do céu da sua boca.

Todos os sentidos,
Neste dia claro,
Vão me levar até você,
Razão dos meus sorrisos dissimulados.


E.R.

31 outubro 2020

CABANA ABANDONADA

Meus pés são raízes da vida real,
Encravados noite adentro 
Na minha aflição.

Meu sombrio dilema:
Me reinventar a noite?
Ou perturbar seu dia?

Hoje,
Sou cabana esquecida no meio do lago
E a solidão de tocaia me abraça.
Presa fácil 
Nos seus tentáculos de palavras afiadas,
Privando minha reação,
Despedaçam-me.

Hoje,
Sou pequenos pedaços soltos no ar,
Pedacinhos de azul atropelando o céu.

E voei
Com os pássaros 
Que brincavam de beijar a luz do sol,
Luz que traduzia em cores
Meu destino,
De uma paixão materializada no vento,
As vezes forte, avassaladora.
As vezes suave, como o respirar.

E voei mais alto
E o aroma que me envolvia 
Era de liberdade,
Que contagiava as flores,
Folhas e qualquer olhar.
E assim, dançamos...
Ao som do silente ventar.

Essa música, tímida e inebriante,
Embalava os fragmentos da minha demência.
Não queria mais ser limitada
Estátua de carne.
E sim, e sempre,
Luz e cor.
E tocar seus sonhos
E estar em tudo no seu olhar.

Uma ação distante
Disfarçada de beijo,
Pra ferir, de forma irreparável,
O meu destino.


TATO

❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤ As vezes Eu sinto Um aperto No peito Que alguns Costumam chamar De saudade. (Eliane Rudey - pro meu pai) ❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤