Oh guri,
Não me venha esfregar na cara
Seus vinte e poucos anos.
Porque eu não quero viajar no tempo.
Não quero te contar das malandragens,
Das artimanhas,
Do tempo da minha juventude.
Já houve,
Se bem me lembro,
Um tempo de ideais a flor da pele.
De acreditar num mundo melhor,
De pessoas melhores.
De escolher uma profissão por paixão.
Querendo assim,
Melhorar a vida.
Houve um tempo de Che,
Rosas,
Fridas,
De acreditar que os homens poderiam ser bons.
Na igualdade e fraternidade
Como ideal supremo do bem comum.
A simplicidade
E o amor ao próximo
Como meta universal.
Não me venha cobrar agora
Discursos inflamados.
Porque meu tempo já passou.
E o mundo só ficou pior.
Agora,
Desejo a guerra.
O sangue,
O fim.
Para, quem sabe,
Renascer, com paus e pedras.
E.R.
03 novembro 2020
CINZAS
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